Conversa de Bar: Estado doTapajós!

Paulo Paixâo.


Tanto faz os pro ou os contra o pretenso “Estado do Tapajós”, todos tem suas desculpas, suas razões ou suas justificativas. Os intelectuais adentram-se pelos caminhos sinuosos das adjetivações e metáforas, avocam mil razões de ordem filosófica, social, histórica, etc, mas, enfim, não nos dizem absolutamente nada ou, melhor, ficam em cima do muro... Na verdade, nem sobem o muro. Seus palavreados, sutis, obscuros, eruditos e eivados de rebuscamentos chegam a aparvalhar plateia inteira, que de lá sai cabisbaixa, atônita, pronta pra desistir dos seus ideais. Os políticos muito espertos e um tanto maquiavélicos para não dizer absolutamente maquiavélicos, pintam um quadro apocalíptico, dantesco mesmo e conseguem iludir os mais frágeis e fáceis de se convencerem...
No entanto, veio mais um fim de semana e uma vasta e festiva galera encontrou-se num desses bares periféricos da cidade para curtir um som da saudade, jogar conversa fora e bilharito, turbinada por cerveja “véu de noiva” e tira-gosto de bisteca assada, quando um belenense do Jurunas entrou portando um papelão retangular com dizeres em negro: “NÃO À DIVISÃO DO PARÁ!”. Naquela ocasião o papo que rolara fora tão-somente música, campeonato paraense, mulheres, aliás, o de sempre, não muito acalorado, mas, a entrada daquele senhor com ar zombeteiro fez a galera silenciar... Ninguém queria, àquela altura, entrar num papo tão controverso, eis que havia muitos amigos de Belém, do baixo-amazonas e do Carajás. Então, ficou por conta de um papudinho estudioso se pronunciar:
- Ei jogador, esse tema não é pra mesa de bar! – continuou o papudinho:
- Deixa esse papo pra 11 de dezembro. Até lá muitas águas vão rolar!
Bom daí em diante a coisa começou a pegar fogo, manifestaram-se os que eram a favor e os contra. Justificativas não faltaram. Parecia que todos estavam com a razão...
Então o papudinho subiu numa cadeira e em voz alta pediu silêncio à galera e clamou:
- Primeiro quero lhe perguntar: (apontou diretamente para o senhor com a tabuleta)
- A pretendida divisão tem ampara Constitucional? Diga, apenas sim ou não para resumir!
-Tem, Art. 18 § 3º da CF. Respondeu o senhor.
- O Projeto cumpriu todos os seus trânsitos e parâmetros legais? (Disse o papudinho, após tomar um gole da sua cachaça).
- Sim cumpriu. Só falta a população paraense votar pelo SIM ou pelo Não.
- Neste caso – concluiu o papudinho com ar vitorioso – que faz o senhor com essa placa ostentando um NÃO sem justificar seu ponto de vista? Acrescentou, ainda:
- Deixe de ser besta homem, cedo ou tarde o Pará será dividido. Os nossos governantes não dão conta nem de resolver nossos problemas dentro de Belém, quanto mais dos pobres irmãos que estão lá no extremo. Não há de ser pela divisão que vão deixar de ser brasileiros, velho besta!



O Senhor da placa pegou corda do papudinho. Ficou vermelho de raiva e leu num papel que tirou do bolso uma longa lista de motivos que justificariam o seu NÃO.
O papudinho o ouviu com muita atenção e meneou a cabeça:
- Olha jogador, esse teu papo está manjado. Todos dizem essa mesma baboseira: políticos, intelectuais e outros, mostram só os pontos que eles acham negativos, mas pergunto, eu: - Sabes as razões porque se cria um Estado?
- Não? Pois vou te dizer velho. Raízes históricas, cultura, vontade política, território, economia, educação, população. Pelo menos sei que os povos do Oeste, há décadas, aspiram ser independentes, as razões: insatisfações com a situação de abandono do seu povo; raiz cultural comum; economia própria. Pergunto, a descentralização político-administrativa, por si só já não é uma boa razão para que uma sociedade cresça de forma mais controlada?
- E vou dizer mais – atalhou o papudinho – estes novos Estados já vêm se desenhando há muito tempo. Vocês que são do contra, o que mesmo podem oferecer pra esses povos para que mudem sua posição? Vocês podem até oferecer, mas, cumprirão o prometido?
O papudinho fez sinal da cruz, desceu da cadeira e disse olhando para o infinito: - Deus nos livre do que estou pensando! Já imaginaram se esses separatistas perdem...? Um grande estigma político será gerado neste Estado. Haverá revanchismos e retaliações, de todos os lados! E ninguém poderá dizer que eu não avisei!

Comentários

  1. A questão é: Porque a região de Belém não quer a emancipação do Estado do Tapajós, porque esse já existe de fato, só falta ser emancipado. A resposta é: porque o Estado do Tapajós dá lucros a região de Belém. Se não desse lucro, eles seriam os primeiros a quererem se livrar desta região. Então senhores deputados do contra, esse discurso que o Estado do Tapajós não terá desenvolvimento, é mentiroso. O Estado do Tapajós tem um futuro brilhante pela frente.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Os comentários não representam a opinião do blog. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Postagens mais visitadas deste blog

43º edição do Festival Folclórico de Santarém inicia nesta quarta-feira, 23

Obra sobre a história do Baixo Amazonas

Maestro Isoca será homenageado em projeto cultural