Lançamento: Livro conta saga de ex-lavradora e suas impressões sobre o modo de vida rural em Santarém

[caption id="attachment_27802" align="alignleft" width="253"]Odila Monteiro Odila Monteiro[/caption]

O lançamento do livro “Cinco Órfãos Entre Cobras e Lagartos”, no próximo dia 05 de setembro, de autoria de Maria Odila Monteiro (79), traz mais uma obra de relato de memórias de um ator social pouco reconhecido como produtor intelectual. Esta é a segunda obra da autora que, em 2000, teve seu primeiro livro, intitulado, “Nos Caminhos dos Seringais”, publicado pelo CNPTIBAMA, relatando a trajetória do seu pai, Luiz Gonzaga Monteiro desde Quixadá aos seringais da Amazônia, até chegar a Santarém. As duas obras retratam uma espécie de “saga dos subordinados” nas relações sociais do mundo rural amazônico, situada numa época de transição histórica que remonta a economia da borracha e chega ao final do século XX, desafiando as duras estruturas da pobreza material para o alcance da cidadania.

Nesta segunda obra, Maria Odila, inicia dizendo: “Comecei a escrever a história da minha vida” e assim, com a simplicidade que passa a impressão de que os casos são relatados pela autora como num diário, em diversas fases de sua infância ou adolescência, ela discorre sobre cerca de 70 anos de como viveu e observou a vida dos santarenos do Tapajós, do Lago Grande e, principalmente, do Maicá, onde passou a infância e grande parte de sua vida. A paisagem natural e humana e a relação das pessoas com a fauna, mostra uma interação complementar, em que o espaço da moradia, dos campos, dos lagos e das roças é compartilhado num jogo de sobrevivência entre gente e bichos.



As ilustrações que trazem a percepção da autora sobre o meio em que cresceu e viveu, são de sua autoria. Das telas em guache, algumas reproduzem fragmentos de paisagens do Lago do Maicá em sua plenitude ecológica e são um registro raro que mostra uma era em que a baixa pressão antrópica não perturbava os ninhos de patos do mato, garças, maguaris e tantos outros animais hoje ameaçados pela sobrepesca e por projetos de portos que vão perturbar esse ambiente, talvez de forma inexorável.

Subordinados - A ideia de “saga dos subordinados” está vinculada ao fato de Maria Odila Monteiro ser uma camponesa que não frequentou escola, tendo aprendido a escrever com seu pai, em casa. Ter ficado órfã aos 12 anos e assumido a responsabilidade de substituir sua mãe nas tarefas de cuidar de quatro irmãos menores, junto com seu pai, já idoso (cuja saga pessoal ela relatou em “Nos Caminhos dos Seringais”). Discorre sobre as suas renúncias, as escolhas de uma adolescente com poucas ou nenhuma oportunidade, a relação de dependência com as famílias ricas da cidade e a tenacidade com que direcionou o futuro dos filhos (entre eles a futura reitora da UFOPA, Raimunda Monteiro) guiada pela ideia de que a redenção social só seria possível pela educação. Funda uma escola para educar seus filhos e os da comunidade do Maicá.

De bônus, a autora ainda traz um relato sumário da trajetória de seu marido, um filho de seringueiros do Acre que chega a Santarém em busca de refúgio das agruras que eram as relações entre patrões e trabalhadores nesses confins da Amazônia e um pouco da vida do seu irmão, que vivenciou a realidade dos garimpos do Tapajós nas décadas de 1960 e 1970. São trajetórias dos camponeses nordestinos que ocuparam o Planalto santareno, de famílias de populações tradicionais do Tapajós, dos seringueiros desgarrados que desaguaram em tantos portos da Amazônia e de garimpeiros que se aventuraram pela generosa e, ao mesmo tempo, cruel - Bacia Aurífera do Tapajós.

Experiências - Maria Odila Monteiro, nesta obra, foi prefaciada por Mary Allegretti, a antropóloga que projetou Chico Mendes e que idealizou as Reservas Extrativistas como modelo de conservação do modo de vida dos seringais, que resultou na Política de Povos e Populações Tradicionais; e pelo Professor-Doutor Florêncio Vaz, sociólogo que substanciou as reivindicações identitárias e fortaleceu a emergência de povos indígenas esquecidos no Baixo Tapajós.

“Cinco Órfãos Entre Cobras e Lagartos” é mais uma maneira de relatar experiências dos povos da Amazônia sobre quem os intelectuais, os indigenistas e, hoje, os ambientalistas se colocam como porta-vozes e intérpretes. Maria Odila Monteiro, com a simplicidade de quem conta estórias, escreve memórias e nos envolve em episódios ora dramáticos ora hilários, abrindo mais uma pequena janela sobre o passado da Amazônia e de Santarém.

A autora estará presente no lançamento para autografar sua obra, no sábado, dia 05 de setembro, data de seu aniversário de 79 anos.

Serviço:

Evento: Lançamento do livro “Cinco Órfãos Entre Cobras e Lagartos”;
Dia e hora: 05/09/2015, sábado, 18h00;
Local: Casa da Memória do Oeste do Pará, sede do IHGTap - Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (Avenida Adriano Pimentel, 80, ao lado da Escadaria do Mirante);

O livro custará R$ 15,00.

Telefone para contato com a autora: 99132-3888 (Prof.ª Raimunda Monteiro).

Texto: Jota Ninos

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