Eleições e disparidades regionais no PA

Por: Henrique Branco (*) [Publicado originalmente em seu blog]

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A cada semana que passa, as definições sobre candidaturas e nomes que concorrerão ao Palácio dos Despachos vão se confirmando. Simão Jatene concorrerá à reeleição no exercício do cargo, diferente do que defendia e ter anunciado a descompatibilização da função. O principal nome da oposição chama-se Helder Barbalho (PMDB), governou por dois mandatos seguidos Ananindeua, a segunda maior cidade em habitantes do Pará. Não conseguiu fazer o seu sucessor.


O PT confirmou apoio ao PMDB. O Psol terá como candidato a ex-deputada Araceli Lemos. O PV deverá lançar Zé Carlos. Duciomar Costa, ex-prefeito de Belém, deverá sair pelo PTB. E assim os nomes vão se formando e dando forma ao processo eleitoral.


Seguindo a lógica e a obrigatoriedade de uma candidatura, planos de governos serão lançados. Neles constam, pelo menos na teoria, as pretensões e ações de governo dos candidatos. Pergunto: qual deles poderá constar ações reais de investimentos em todas as regiões do Pará? Qual deles irá contemplar a descentralização da RMB (Região Metropolitana de Belém) dos arranjos institucionais do Palácio dos Despachos?


Independentemente de quem esteja no governo do Estado, continuaremos a ter uma ilha chamada RMB e os novos fluxos de desenvolvimento passando a centenas de quilômetros da capital paraense.


Estive recentemente na região sudeste do Pará. Precisamente em Marabá, Curionópolis e Eldorado dos Carajás, em trânsito. Fiquei hospedado em Parauapebas por 48 horas. Me impressionou o desenvolvimento da região, especialmente e impressionantemente, Parauapebas, cidade hoje de maior PIB per capita do Pará, ultrapassando a capital Belém. Em “Pebas” como é mais conhecida pelos residentes locais, nasce, ou “brota” todo mês um bairro novo. A cidade cresce horizontalmente de forma rápida em todas as direções, contornando morros, se acomodando junto com a geografia local.



O modelo de cidade grande, desenvolvida, começa a chegar fortemente em Marabá e Parauapebas. Ambas já começam a ter engarrafamentos (bem menores, é claro do que em Belém), contam com setor de comércio e serviços bem forte. Ambas cidades possuem a “marca” de uma cidade capitalista, “moderna”: Shopping.


As obras do governo do Estado em Marabá são poucas, contadas no dedo. Vista, apenas a iluminação do trecho da rodovia Transamazônica que corta a cidade. Em Parauapebas são quase inexistentes. Não vi uma placar sequer de obra do governo estadual.Por lá a Vale mantém a cidade que se formou no pé da serra sob seu controle, imprimindo agenda de realizações de obra públicas com a prefeitura municipal.


Três dias na região me fizeram entender “in locu”, o clamor pela criação do Estado do Carajás. Não se trata simplesmente de oportunismo político-eleitoral. A região carece de investimentos, da presença do governo estadual. Esse abandono não é do governo Jatene. É histórico.


No governo estadual do PT se ensaiou algumas ações de descentralização administrativa com o PTP (Planejamento Territorial Participativo) e as subgovernadorias, estas localizadas em Marabá e Santarém. Esta última reivindica para si a sede do Estado do Tapajós.


Entre todos os entes federativos brasileiros, estamos entre os mais centralizados administrativamente. Segundo dados do próprio governo estadual, 60% do funcionalismo público ativo paraense está concentrado na RMB. Um absurdo. Isso escancara a falta de prestação de serviços públicos aos paraenses das regiões mais afastadas da capital.


Na verdade não precisa fazer muito esforço para perceber que o estado do Pará e os seus mais de 1,2 milhões de km², dimensões continentais, já estão divididos. O plebiscito em 2011 serviu para escancarar isso. Seria a institucionalização oficial do processo. A maioria eleitores da RMB e nordeste paraense não deixaram.


Teremos mais uma disputa pelo governo do Estado, infelizmente, nenhuma das candidaturas se apresentam como alternativa que o Pará precisa hoje: as diferenças regionais. Vamos continuar – independente – de quem vença, a governar o Pará e suas dimensões continentais do Palácio dos Despachos, assistindo por cima do muro que separa a RMB das outras regiões o desenvolvimento cada vez mais pujante, esperando a inevitável divisão territorial que acontecerá independente da vontade de Belém.


(*) Professor especialista em de geografia da Amazônia

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