A maior razão para votar‏

Por: Jonival Sanches (*)


Sou filho de pai carpinteiro e mãe dona de casa, os quais foram por grande parte de sua vida lavradores na região do Lago Grande na cidade de Santarém. Tenho sete irmãos. Hoje sou cientista político e servidor público concursado e estável do poder judiciário, quando estudante colegial, estudei em escolas públicas, nas quais faltavam carteiras e nem havia paredes, cheguei a andar (a pé) cerca de um quilômetro para ter de estudar, no turno intermediário (aquele que fica entre os turnos da tarde e da manhã), que criado foi por falta de vagas. Por esforço meu e de meus pais e familiares pude adentrar as portas de um curso superior na UFPA e depois de formado poder passar em quatro concursos públicos. Apesar de tudo pude estudar. Tive oportunidades e me agarrei a elas.


Eu sei o valor que têm as oportunidades oferecidas na vida de uma pessoa.


A Criação do Estado do Tapajós apresenta-se como um grande incremento de oportunidades na vida de tantas pessoas que delas necessitam. Suas necessidades são por vezes imediatas e dramáticas como a de acesso a médicos, hospitais e equipamentos, hoje existentes somente na capital do "Grande Pará", para que possam continuar vivendo.





As oportunidades se bem aproveitadas podem fazer a diferença na vida das pessoas, porém, infelizmente, para muitas elas não chegaram, porque o Estado do Pará de tão grande que é não possui meios de governança para que as políticas públicas alcancem a todos os seus cidadãos.


O tamanho do seu território, por exemplo, aumenta exponencialmente os custos de campanha tanto para os deputados estaduais como para os federais e a consequência disso é que os candidatos se distritalizam, procurando concentrar votos redutos eleitorais nos quais possam conseguir mais votos.


Onde estão concentrados os maiores nichos eleitorais do Estado “Parazão”? Na capital e zona metropolitana. Por elas é eleita a esmagadora maioria dos parlamentares federais e estaduais paraenses, os quais, utilizando estratégias clientelistas e paroquialistas, depois de eleitos concentram o máximo de benefícios nessas regiões a fim de assegurar sua recondução aos seus cargos ou ascensão na sua carreira.


Essa lógica perversa é também, como procuro demonstrar, produto do tamanho do imenso Pará, e por causa disso é políticos como Zenaldo Coutinho, cujo reduto eleitoral baseia-se na capital não possui proposta alguma para amenizar ao menos ao abandono do interior do estado (ele não o conhece). Sequer deve ter pensado nisso, porque seus interesses eleitorais (e eleitoreiros) estão voltados apenas a sua paróquia. Ele não conhece os problemas do seu Estado (talvez conheça, e mal, os problemas de seu reduto eleitoral, embora não se saiba de projeto de lei proposto por ele para resolvê-los.


A criação de novos estados como o Tapajós quebra essa lógica. Ao se diminuir o tamanho do Estado, reduzem-se os custos de deslocamento para as pessoas de todos os cantos poderem lutar mais próximas ao poder pela descentralização dos benefícios das políticas públicas. Além disso, ampliam-se significativamente as suas chances de elegerem seus representantes parlamentares (Deputados Federais, Senadores e Deputados estaduais), pois, hoje, as chances de cidadãos de vários municípios do interior se verem representados é simplesmente inexistentes.


Sem representação, as populações desses lugares ficam completamente à mercê da boa vontade dos governantes e demais políticos encastelados na Capital. Mas eles não querem saber delas por não se sentirem seus representantes, e sim apenas seus mandatários.


Em suma, essas milhares (ou milhões) de pessoas hoje estão abandonadas à própria sorte e a única presença do estado que têm na maioria das vezes é voltada a lhes exigir tributos e lhes discriminar tratando-os como cidadãos de segunda classe.  


Essas pessoas não possuem a oportunidades de viajar de uma cidade à outra por estradas asfaltadas, pois no Oeste do Pará talvez exista somente uma rodovia estadual que exerça tal função e seja asfaltada. Não têm oportunidade de tratar sua saúde em um hospital estadual, pois nessa região somente existem dois (construídos a menos de oito anos), os quais nem funcionam em sua plenitude. Se seus bebês adoecerem têm de contar com a sorte e a fé, porque inexistem UTIs para eles. Essas pequenas pessoas talvez nem cheguem a ter a oportunidade de sonhar, pois até esse direito lhes tem sido negado. Sem falar nas escolas caindo aos pedaços.


O Pará já está dividido, entre a capital e zona metropolitana, nas quais se concentram as rendas e recursos públicos  e o resto do Estado ao qual tem sobrado, também pelos motivos acima, o descaso, abandono e o preconceito. Preconceito reforçado pelo discurso prepotente e xenófobo dos arautos da campanha contra a emancipação da gente sem oportunidades do Tapajós.


Voto 77, porque pretendo que o todo ser humano tenha oportunidades como, um dia, eu tive e isso possa fez a diferença em suas vidas como fez e continua a fazer na minha.


(*) Jonivaldo de Sousa Sanches, Santareno, sociólogo especializado em ciência política

Comentários

  1. Guilherme Monteiro de Carvalho09/12/2011, 14:34

    O dever e direito de votar na criação do Estado do Tapajós já é parte da vida de todo cidadão consciente que nasceu na rigião tão rica porém desprezada pelos sabichões da capital

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