Altamira em transformação.

A liberação da construção da Usina de Belo Monte tem levantado muita expectativa no Estado. Os possíveis benefícios que a obra irá trazer para o município de Altamira já estão gerando especulações em todos os meios setores. Mas é a explosão imobiliária que tem chamado bastante atenção. Não só grandes construtoras e corretoras de imóveis já estão de olho no mercado em expansão e pretendem implantar sede no município, mas os proprietários de imóveis na cidade também já atentaram para a valorização.


O Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Pará (Crea-PA) diz que esse crescimento desordenado poderá trazer prejuízos ao município. “Se a prefeitura de Altamira não fizer um planejamento, é bem provável que aconteça um caos urbano, pois vamos presenciar a lei da procura e da oferta”, avalia o coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Civil do Crea, Alexandre Ferreira. Segundo ele, a grande procura por casas aliada à pouca oferta vai gerar uma elevação nos preços dos aluguéis locais.


Ele acredita que esse problema pode ser evitado a partir do momento em que for feita uma revitalização urbana. “Se a cidade que já existe conseguir se planejar e interagir com o novo espaço que está sendo construído, o saldo não será tão negativo. Tudo parte de um plano diretor”, explicou Ferreira.

E visando essa “corrida” pelo imóvel, construtoras e imobiliárias de todos os locais já têm se preparado para montar sede em Altamira. De acordo com a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Pará (Ademi-PA), esse movimento de busca inicial por imóveis é normal para o mercado e a tendência é que, a médio prazo, fique estabilizado. “Com o aumento acentuado de pessoas na cidade e com as dificuldades de encontrar uma casa para ficar, a tendência é que tudo fique muito caro e todos vão tentar tirar proveito disso”, disse o presidente da Ademi, Antônio Couceiro.


Por isso, para Couceiro, a construção de Belo Monte é fundamental e o crescimento é inevitável, pois vai gerar emprego em todas as áreas. “Os impactos negativos não serão tão grandes se o município se planejar, pois a geração de empregos e a circulação de renda e impostos será muito alta. O maior exemplo é a cidade de Tucuruí”.


Tristeza para quem paga, alegria de quem recebe


João Fais Júnior, empresário do ramo de farmácia, está otimista quanto ao crescimento populacional de Altamira. Morando no município há cerca de 30 anos, ele diz que sempre acompanhou o desenvolvimento da cidade com expectativa. João não quis falar em números, mas confirmou que está investindo em imóveis e está tendo retorno imediato. Ele está construindo dois prédios com dois andares cada, com salas comerciais e residenciais, no centro de Altamira. “As que ainda não aluguei estão reservadas. Sempre acreditei que um dia o que a gente construísse seria valorizado. O bom é que já chegou”, disse.


Por outro lado, boa parte das pessoas reclama do custo alto dos aluguéis. Verônica Clara Rodrigues é bancária e diz que desde que veio para a cidade, há cinco anos, já teve que mudar quatro vezes. Apartamentos em prédio ou conjunto residencial, com dois quartos, sala cozinha e banheiro e uma pequena área de serviço, que antes eram alugados por uma média de R$ 350 em bairros centrais, hoje estão custando entre R$ 600 e R$ 800. Se tiver sido feita uma reforma recente, o inquilino pode pagar um valor de até mil reais o aluguel. “É um abuso e a gente não tem que pagar pelos outros que nem na cidade vão morar”, desabafou Verônica, referindo-se aos empregados que vão chegar para a construção da barragem e serão distribuídos em vilas residenciais próximas ao canteiro de obras, a mais de 20 km de Altamira.


REMANEJAMENTO


O problema de moradia em Altamira, assim como em outras cidades do país, é um problema complicado de resolver. Calcula-se que atualmente vivam nas áreas de risco da cidade cerca de 6 mil famílias que serão atingidas pela inundação do lago. Neste mês, a Norte Energia iniciou o trabalho de cadastramento dessas famílias obedecendo a ordem do Ibama, que é registrar quem mora até a cota 100. Uma margem maior para que não haja surpresas.


De acordo com Ronaldo Crusco, diretor de realocação da empresa, o trabalho consiste em checar como vivem essas pessoas e como serão avaliadas suas residências. Também será possível saber se o proprietário da casa, depois de ser feita a avaliação, vai querer a indenização em dinheiro ou a mudança para uma área ainda em estudo, onde o morador vai receber uma nova casa, infraestrutura habitacional, entre outras vantagens.


Falta casa para alugar e até vaga em hotel na cidade


O Fort Xingu, movimento de reação contra Belo Monte, vem cobrando do consórcio construtor respostas imediatas para as pessoas que moram nas áreas que serão atingidas. Vilmar Soares reclama da demora da empresa em dar uma resposta e está preocupado porque nos últimos meses foram registradas pelo menos quatro grandes invasões de terras na zona urbana. “A maioria delas por pessoas assustadas que não sabem para onde vão”, disse.


Valdir Inácio Riso atua há mais de 20 anos no ramo imobiliário da cidade e diz nunca ter presenciado tanta procura pelo aluguel. De acordo com ele, hoje essa busca por residências ou apartamentos aumentou cerca de 60%. Número bem maior do que foi visto no mesmo período do ano passado, e reforça mostrando a lista de espera que não é pequena.


Hoje existem pessoas espalhadas na cidade morando em hotéis e motéis, porque não encontram casas para alugar. E para achar uma vaga em um hotel da cidade, o cliente deve reservar pelo menos com duas semanas de antecedência. Os preços, em alguns hotéis de luxo, chegam a R$ 230 a diária


Hermenegildo Oliveira investe em imóveis há quatro anos. Ele diz que os apartamentos construídos e ocupados em 2008 eram alugados por R$ 450. Hoje, o preço não pode ser menor que R$ 700, garante. Até Hermenegildo foi morar de aluguel. Isso porque com essa valorização ele acabou alugando a própria casa. Ele não divulgou o valor, mas garante que valeu a pena.


Com os investimentos aquecidos em imóveis, bom para o setor de materiais de construção. O empresário Marcelo Zanella está otimista e acredita que deverá ter bons resultados. “Espero que toda a matéria-prima seja adquirida aqui na cidade para gerar emprego e renda local”, lembrou Zanella.


Outro setor que vem acumulando números inéditos ao longo desse ano é o da construção civil. Profissionais que estavam preocupados com a falta de oportunidades e que vinham “se virando”, fazendo os conhecidos “bicos”, agora podem comemorar as obras.


(Diário do Pará)

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