Armas da crítica: Estratégias Discursivas no Plebiscito

Por:Jonivaldo de Sousa Sanches. (*)

O pleito plebiscitário sobre a criação dos estados do Tapajós e Carajás, está marcado para o dia 11 de dezembro de 2011. Fim de ano, portanto, o povo de todo o Estado do Pará terá um encontro com as urnas. A data e o campo do embate entre os que defendem o desmembramento do território do atual estado do Pará e quem defende posição contrária já estão definidos. Consoante já havia opinado, a justiça eleitoral definiu que todo o estado deve ser ouvido.


Mas quais serão as armas desse duelo. Todo o duelo eleitoral segue uma lógica baseada na racionalidade instrumental que define preliminarmente se o eleitor comparecerá as urnas. Comparecendo, se votará. E, votando, em quem que direção lançará seu voto.


Sendo assim, podemos traduzir as armas das partes envolvidas no pleito em estratégias para fazer o eleitor comparecer, lançar seu voto e na direção desejada. Somente haverá dois caminhos: autonomia ou status quo.


Aqui entra o papel do convencimento político. Este escrito concentrar-se-á em descrever, grosso modo, como quem é contrário à Criação dos Novos Estados, a partir do Território do atual Estado do Pará, procurará convencer os eleitores a votar em sua proposição, a qual resumir-se-á em votar “não” a criação dos Estados do Tapajós e Carajás.


Basicamente os eleitores quando decidem votar, fazem-no por vários motivos, os quais não serão analisados detidamente por falta de espaço. Porém o sentido do seu voto é decidido levando-se em consideração fatores que tendem à maximização de utilidade do voto lançado. O eleitor escolhe propostas que tendem a melhorar sua vida ou impedir algo que a piore de alguma forma (o voto é sim também estratégico).




O discurso de quem é contrário à criação dos novos estado concentrar-se-á no seguinte argumento: o de que com a criação dos novos estados a vida do cidadão paraense irá piorar e de que, desmembrando-se, a vida dos cidadãos dos novos estados em nada irá mudar ou poderá mudar para melhor de outras formas menos custosas, mais ainda, de que os custos importarão em inviabilidade dos Novos Estados. Procurarão arrastar o eleitor a acreditar que o jogo eleitoral do plebiscito é um jogo de soma zero, no qual o Pará remanescente perderá o que ganharão os novos Estados. Como se a divisão não vá ser boa para todos os lados envolvidos no pleito e a criação dos novos estados não fosse, como é, investimento estratégico na região amazônica, a fim de melhor desenvolvê-la.


O discurso contrário à divisão volta-se aos interesses imediatos dos atores econômicos sediados na capital e zona metropolitana paraenses, e ainda, ao palanque de quem visa sua carreira política nessas regiões. O jogo que jogam é o jogo “oculto” das próximas eleições que disputarão e não apenas odo plebiscito. Preocupam-se não com o Povo do Pará, mas com suas carreiras políticas e interesses pessoais.


Durante um pleito eleitoral, considerando que os eleitores não dispõem de tempo o suficiente para levantar informações (“ignorância” racional), as propagandas eleitorais encarregam-se de fornecer as informações para os eleitores, porém o farão de acordo com sua posição política. Fornecem-se “atalhos” voltados a convencê-los a votar de acordo com as posições defendias pelos formuladores da campanha nos termos do que lhes é encomendado. Os conservadores (contrários à autonomia) fornecerão atalhos do tipo “o Pará tem de permanecer grande” fazendo tentar parecer ao eleitor, por essa mensagem, que a grandeza territorial de um país, estado, etc..., está diretamente associada a sua grandeza política, econômica, etc..., (isso é uma falácia lógica, mas que possui apelo persuasivo). Dentre esses atalhos persuasivos certamente um que chamará atenção é divulgação de “enquetes” e mesmo “pesquisas” sobre o assunto mostrando resultados desfavoráveis ao pleito emancipacionista com o objetivo de desestimular a participação dos eleitores que votariam favoráveis à emancipação ou fazendo os indecisos votarem contra sob o argumento da maioria (embora suposta).


A encomenda de pesquisas por órgãos contrários certamente enfatizará resultados favoráveis as suas posições, pois está amplamente demonstrado o efeito das pesquisas na decisão de parte considerável do eleitorado (uma espécie de “efeito Maria vai com as outras”).


Nesse sentido é imperioso antecipar os efeitos de campanhas contrárias à criação dos novos estados, vislumbrando aos possíveis atalhos fornecidos pelos opositores à autonomia das regiões emancipacionistas e elaborando um discurso que possa demonstrar a incoerência desses argumentos. Por exemplo, mostrando de desde já que o tamanho de um estado não o torna forte, poderoso, desenvolvido. Não há relação entre tamanho territorial e desenvolvimento ou poder. O Brasil é um país de extensão territorial enorme, mas menos desenvolvido que o Japão, Holanda, Bélgica, França, Grã-Bretanha, por exemplo.


Outro exemplo, a autonomia dessas regiões, transformadas em estados, fortalecerá a gestão do território amazônico e sua representação política. Com mais senadores e deputados poder-se-á enfrentar problemas comuns a toda a Região Norte. Divisão pode sim fortalecer a todos os atores envolvidos.


A campanha formal pode até ter data certa para começar, mas a mobilização e a elaboração das estratégias não podem ser pensadas no calor da batalha; principalmente quando as propostas estão pautadas em um jogo eleitoral com somente dois cenários possíveis: a mudança (emancipação) ou o status quo (permanências das áreas do sul e oeste como parte do Estado do Pará). Para se iniciar um duelo é necessário saber-se quem e como se irá enfrentar, já que se entende que é possível vencer.


(*) Cientista Político.

Comentários

  1. Promover a criação de Movimentos Autônomos em Belém e região.
    Ver: http://imbiriba.blogspot.com/2011/07/crie-seu-cit-comite-independente.html

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  2. Por favor, minha gente querida de Belém, não estraguem nosso sonho de quase duzentos anos, deixem-nos seguir nossa vida como queremos, fiquem com seus políticos corruptos e deixem-nos com os nossos, deixem-nos com nossa pobreza, nosso subdesenvolvimento, dêem-nos um pequeno crédito de confiança, livrem-se de nós, deixem-nos alçar vôo com nossas próprias asas.
    É isto pedir muito? Será que vocês não podem nos dar a liberdade que tanto queremos? Vocês querem nos levar ao desespero? Querem que nos tornemos novos Cabanos, que oprimidos, injustiçados, abandonados por quatrocentos anos, nos revoltemos e tentemos conquistar de modo cruel, de luta, de desespero, de morte, a LIBERDADE que não nos é dada de modo fraterno?
    A democracia é bela e permite soluções pacíficas. Vamos ao plebiscito, democraticamente, todos votar SIM. SIM ao Tapajós, SIM ao Carajás, SIM ao Grão Pará que se engrandece em sua magnanimidade, em sua condescendência, em seu amor pelos irmãos que se tornam adultos e querem ter seu próprio lar. Sejamos irmãos, sejamos fraternos e sejamos todos felizes.

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  3. Não moro em Belém há muitos anos , mas acho absurda esse plesbicito para dividir o Pará pode representar a repartição só da pobreza para a grande maioria, e a concentração de mais riquezas nas mãos de poucos, através de uma espécie de loteamento dos recursos naturais renováveis e não renováveis ainda existentes. O Pará já é dividido administrativamente em Municípios, o que precisamos é mais seriedade, eficiência e menos desperdício na aplicação de recursos públicos.
    Porque nao investir nos proximos dez anos todo o montante de recursos que seriam gastos com a formacao e custeio dos politicos nos novos estados, nas proprias regioes , mas sem criar os estados ? Ao invés de fazer seu loteamento e o que é pior criar um sentimento de divisão entre a população o que pode gerar consequências piores, temos exemplos tristes na europa e africa.

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